Desafios na Gestão de Projetos Sociais
- Re Sociali

- 11 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de set. de 2021

Resolver problemas sociais não é simples, pelo contrário, é tarefa muito complexa. É atuar em territórios plurais, com públicos distintos, de condições sociais diversas e desiguais, onde relações de poder e convivência se conflitam o tempo todo. Transformar vidas através de um projeto com escopo definido para enfrentar uma dada situação, encontra muitos desafios, da idealização até o resultado final.
Um projeto social envolve várias áreas do conhecimento, desde o planejamento até a prestação de contas, passa pelas áreas jurídica, administrativa, assistencial, educacional, orçamentária, financeira, contábil, entre outras. Entender os desafios que enfrentamos na prática nos ajudará a aprimorar trabalhos futuros. Para refletirmos sobre esses desafios, podemos analisar os principais tópicos da estrutura de um projeto social, de forma a identificar seus pontos mais críticos.
Dependendo do projeto, o levantamento inicial dos requisitos legais é fundamental. Feito de forma inadequada, pode impactar negativamente todo o trabalho até o final. É essencial que o projeto esteja alinhado ao objeto proposto pelo contratante ou parceiro, ligando este à justificativa do projeto sob argumentos baseados nos diagnósticos e na realidade social a serem impactados. Nesse ponto inicial, muitos técnicos não dedicam o esforço e o estudo necessários.
Outro tópico importante e, talvez, seja este o maior desafio, é a definição do público-alvo e a análise do território. O que pode se entender por não colocar no projeto somente a descrição do público, da faixa etária, do sexo, da etnia e da renda. Mas, sim, analisar e descrever a correlação do público-alvo com o território por meio da análise de dados e indicadores socioeconômicos e socioterritoriais. Nesse ponto, a falta de uniformidade e padronização de informações nos bancos de dados governamentais pode tornar a tarefa mais crítica. Nem todos os dados chegam à escala de setores censitários do IBGE, sendo necessário desenvolver instrumentos complementares.
Ainda, devemos dar atenção aos objetivos - geral e específicos - do projeto, que é o que se pretende alcançar com a sua execução. Também, atenção à metodologia, que é o caminho a seguir para atingir esses objetivos, definir instrumentais, técnicas e formas de execução. A metodologia pode ser um ponto crítico, por exemplo, quando não identifica a abordagem adequada ao usuário, resultando na baixa adesão às intervenções propostas. Um dos desafios é ouvir o usuário ou beneficiário do projeto na fase de planejamento e conseguir transpor suas necessidades e expectativas para o papel e para a prática.
E sobre os resultados? Será que existe desafio maior do que medir os resultados do projeto social? Como tornar os resultados tangíveis e mensuráveis? É possível, com o apoio das técnicas de gestão da qualidade, criar indicadores passíveis de serem medidos e, nesse sentido, o desenvolvimento do instrumental de coleta de dados é muito importante, seguido da atenta e crítica análise das informações resultantes. Sabemos que não é fácil medir percepções humanas sobre uma intervenção social e transformá-las em dados e informações inteligíveis, mas, é preciso sair da tradicional contagem de presenças, da avaliação apenas quantitativa e, assim, evoluir na qualitativa. Trabalhamos com pessoas e precisamos saber o quanto impactamos a vida delas para podermos corrigir ou melhorar o projeto.
Notem que, sob o enfoque do planejamento, a execução se torna, sem diminuir sua importância, secundária, pois refletirá o bom - ou mau - desenvolvimento das demais fases do projeto. Por isso, não adianta corrigir somente os erros que ocorrem na execução. É preciso rever as demais fases para encontrar a causa raiz do problema.
Esta pequena reflexão não encerra aqui, pois trata somente da parte técnica e não aborda o papel estratégico dos governos na condução dos projetos, o qual, sabemos, chega a ser negligente em muitas situações. Mas, esperamos que ela possa ajudar os profissionais que atuam em projetos sociais e que lidam diretamente com as expressões da questão social a que são subjugadas milhões de pessoas pelo país. Pessoas, na maioria das vezes, marginalizadas pela sua condição social e que precisam de nós, dos profissionais, da sociedade e do Estado.




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