Saúde Mental no Trabalho Social: O que a nova NR-1 exige das OSCs e como se adaptar
- Re Sociali
- 24 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de abr.

A atualização das Normas Regulamentadoras NR-1 e NR-17 traz impactos significativos para a gestão de pessoas em Organizações da Sociedade Civil (OSCs), especialmente aquelas que empregam assistentes sociais, psicólogos e educadores sociais. Esses profissionais estão expostos a riscos psicossociais intrínsecos às suas atividades, como estresse emocional, sobrecarga de trabalho e exposição a situações traumáticas. Abaixo, destacamos os principais impactos e recomendações para as OSCs:
1. Impactos na Gestão de Pessoas
a) Necessidade de Políticas Formais de Prevenção de Riscos Psicossociais
Obrigatoriedade legal: A inclusão de riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) exige que as OSCs formalizem políticas para combater assédio, estresse ocupacional e sobrecarga de trabalho.
Exemplo: Implementação de canais seguros para denúncias de assédio e protocolos para investigação de casos, além de limites claros para carga horária e distribuição equilibrada de tarefas.
b) Adaptação da Organização do Trabalho
Prevenção de burnout: Profissionais de áreas sociais estão sujeitos a desgaste emocional devido ao contato direto com vulnerabilidades sociais e com casos de violências das mais diversas. A NR-17 reforça a necessidade de medidas como pausas, rodízio de atividades e ajustes ergonômicos.
Aplicação prática: Flexibilização de horários, intervalos obrigatórios para recuperação psicofisiológica e rodízio entre funções (ex.: alternar atendimento direto a casos críticos com atividades administrativas).
c) Cultura Organizacional e Saúde Mental
Foco em bem-estar: A norma exige que as OSCs promovam um ambiente seguro psicologicamente, o que demanda investimento em saúde mental (ex.: acesso a psicoterapia, grupos de apoio e programas de autocuidado).
Desafio cultural: Romper com práticas de "heroísmo" comum em setores sociais, onde sobrecarga é vista como "parte do trabalho", exigindo sensibilização da liderança.
d) Integração Multidisciplinar
Colaboração entre áreas: A gestão de riscos psicossociais requer ação conjunta entre RH, equipes técnicas (assistentes sociais, psicólogos) e direção. Psicólogos internos podem atuar como facilitadores na identificação de riscos e na criação de estratégias preventivas.
Exemplo: Realizar avaliações periódicas de clima organizacional com participação ativa dos colaboradores.
e) Capacitação e Treinamento
Conformidade com a NR-17: Treinamentos obrigatórios sobre fatores psicossociais (ex.: reconhecer sintomas de estresse, técnicas de comunicação não violenta) devem ser incorporados à rotina.
Aproveitamento de expertise: Profissionais de psicologia e serviço social podem liderar capacitações sobre gestão emocional e limites éticos no trabalho.
f) Documentação e Auditorias
Accountability: As OSCs precisarão documentar ações de prevenção (ex.: registros de pausas, resultados de pesquisas de clima) para comprovar conformidade nas auditorias pós-2025.
Risco de penalidades: Organizações que não se adequarem podem sofrer multas e perda de credibilidade, especialmente as que dependem de parcerias com o poder público.
2. Recomendações para OSCs
Mapeamento de Riscos Psicossociais
Realizar pesquisas anônimas para identificar fontes de estresse (ex.: excesso de demandas, falta de apoio gerencial).
Utilizar metodologias participativas, como grupos focais mediados por psicólogos.
Revisão de Processos de Trabalho
Estabelecer limites máximos de casos por profissional (ex.: número de famílias atendidas por assistente social).
Implementar políticas de desconexão (ex.: proibir contatos após o horário de trabalho).
Estruturação de Suporte Psicológico
Oferecer benefícios como terapia subsidiada, parcerias com clínicas de saúde mental ou supervisiones clínicas coletivas.
Incluir psicólogos na equipe permanente para apoio aos colaboradores.
Adequação à NR-17
Garantir pausas obrigatórias (computadas como horas trabalhadas) e ambientes de descanso fora das áreas de atendimento.
Promover rodízio de funções para reduzir a monotonia e o desgaste emocional.
Engajamento da Liderança
Capacitar gestores em gestão humanizada, com foco em escuta ativa e reconhecimento de sinais de esgotamento.
Vincular metas organizacionais a indicadores de bem-estar (ex.: reduzir turnover relacionado a estresse).
3. Desafios Específicos para OSCs
Recursos limitados: Muitas OSCs operam com orçamentos restritos. Soluções criativas, como parcerias com universidades para estágios em psicologia ou uso de ferramentas gratuitas de pesquisa de clima, podem ajudar.
Cultura de urgência: A natureza crítica do trabalho social muitas vezes prioriza demandas externas em detrimento do cuidado interno. É essencial equilibrar missão institucional e saúde dos colaboradores.
Advocacy: As OSCs podem unir-se em redes para pressionar por financiamento específico destinado à adequação às normas, reconhecendo que bem-estar organizacional é parte integrante de sua eficácia.
Conclusão
A atualização da NR-1, combinada com a NR-17, representa um avanço na proteção aos trabalhadores, mas impõe desafios operacionais e culturais às OSCs. Para organizações com profissionais de áreas sociais, a adequação não é apenas uma obrigação legal, mas uma oportunidade para fortalecer sua missão: se cuidam de quem cuida, garantem sustentabilidade e qualidade nos serviços prestados à sociedade. A integração entre compliance, gestão humanizada e expertise técnica (dos próprios psicólogos e assistentes sociais) será chave para transformar riscos em resiliência organizacional.
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